quarta-feira, 9 de março de 2011

Relacionamento

Se fosse definir o verbo relacionar, talvez o colocaria no futuro do presente mais que imperfeito.
Mal consigo digitar, mas os olhos embaçados e lacrimejantes me deixaram com uma certa carência afetiva. Um respiro, uma atenção, uma visão.
Não entendo como muitos maltratam, humilham e se esquecem que a vida é uma eterna batalha.
Estar ao lado de pessoas e fazer amizades não significa nada quando tudo é construído através de interesses, egoísmo e comandado pelo individualismo.
O "estar no casulo" pode ser uma proteção invisivel, segura, firme. Onde ninguém irá te machucar, ao menos que cutuque.
Se relacionamento é reciprocidade de afeto, como ter e mantê-lo de forma egoísta? A resposta, creio eu, deve estar no conforto, na carência, no comodismo e nas necessidades físicas e sexuais de todos os seres humanos...Diria que o relacionamento é um eterno plural simples: pelo bem ou pelo mal.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Calor infernal

A última semana deve ter sido considerada a semana mais infernal que já passei em 23 anos vivendo em São Paulo (conto que os meus três anos em Santo André são totalmente paulistanos). O inferno não seria a rotina, o trânsito, o metrô lotado, a falta de educação ou, ainda, as chuvas torrenciais. Digamos que o inferno seria tudo isso e mais um calor de 36º.

Tragédias à parte, o que nos resta em um domingo com esta temperatura e nenhum mar ou piscina (enquanto não me cadastro no Sesc) à vista? A praia paulistana sempre é uma ótima saída: um parque! No lugar da água, árvores! O escolhido da vez foi o meu favorito, o parque da Aclimação.

Parece não ser uma boa opção, mas digo nada melhor do que ficar em um lugar fresco, arejado, vendo pássaros e cães maravilhosos e descobrir que sim, você pode curtir um cão de pequeno porte, que o Shih Tzu é mais fofo que o Lhasa Apso e, enfim, estender uma canga na grama e ler um jornal enquanto o seu amado lê um livro.

Sim, esse foi um domingo mutio gostoso completado com a descoberta de um self service árabe, com mais comida brasileira que o comum, barato e o Ano Novo chinês comemorado no final de semana na Liberdade!

São Paulo pode ser a cidade mais cinza e com o trânsito mais caótico do País, com as pessoas mais egoístas e sem educação (descordo do egoísmo, pois o Sul concorre bem...), mas uma coisa me faz sentir bem: você pode fazer de tudo à pé e ter de tudo barato/médio/caro, desde que tenha boa vontade a cidade de oferece milhares de programações culturais, culinárias e de lazer para todas as idades e gosto.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

"Amor – pois que é palavra essencial
comece esta canção e toda a envolva.
Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,
reúna alma e desejo, membro e vulva.

Quem ousará dizer que ele é só alma?
Quem não sente no corpo a alma expandir-se
até desabrochar em puro gritode orgasmo, num instante de infinito?

O corpo noutro corpo entrelaçado,
fundido, dissolvido, volta à origem
dos seres, que Platão viu completados:
é um, perfeito em dois; são dois em um.

Integração na cama ou já no cosmo?
Onde termina o quarto e chega aos astros?
Que força em nossos flancos nos transporta
a essa extrema região, etérea, eterna?

Ao delicioso toque do clitóris,
já tudo se transforma, num relâmpago.
Em pequenino ponto desse corpo,
a fonte, o fogo, o mel se concentraram.

Vai a penetração rompendo nuven
se devassando sóis tão fulgurantes
que nunca a vista humana os suportara,
mas, varado de luz, o coito segue.

E prossegue e se espraia de tal sorte
que, além de nós, além da prórpia vida,
como ativa abstração que se faz carne,
a idéia de gozar está gozando.

E num sofrer de gozo entre palavras,
menos que isto, sons, ar, quejos, ais,
um só espasmo em nós atinge o climax:
é quando o amor morre de amor, divino.

Quantas vezes morremos um no outro,
no úmido subterrâneo da vagina,
nessa morte mais suave do que o sono:
a pausa dos sentidos, satisfeita.

Então a paz se instaura. A paz dos deuses,
estendidos na cama, qual estátuas
vestidas de suor, agradecendo
o que a um deus acrescenta o amor terrestre."

Drummond me cerca e aprofunda os meus desejos numa fase meio ninfomaníaca...

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

2011

"Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano.
Foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a
funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação
e
tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para diante, tudo vai ser diferente."
(Carlos Drummond de Andrade)
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Se 2010 terminou de uma forma genial, com trancos e barrancos cada vez mais vultosos e com conteúdo que aprendo, desconheço, arremesso...não me atrevo, conheço, satisfaço, me satisfaz, amo, ironizo, desabo, encontro, junto...

Posso dizer que esse ano se inicia com uma ressaca na vida. Clichê à parte, a hora é de tomar um rumo e mudar a cara de algo que não mais me atém.
A liberdade de um pássaro chega a ser cada vez mais apreciada e ostentada. As garras devem aparecer. Quem sabe as de uma águia? Nessa realidade, o que posso dizer é que vem um gavião e, desta vez, não o da FIEL...como chamá-lo?

Vontades e desejos não são concretos até que algo, que alguém e que um conjunto de pessoas se movam, façam acontecer. Esperar não é mais uma desculpa. Essa, por sua vez desgastada, chega a soar como um desleixo, mais uma bela e singela hipocrisia aterrorizante...com o próprio eu e, no conjunto, com a nação. No escuro pode ver claramente que, no escuro, não viverão.
Ariane Cordeiro.